Diplomata André Corrêa do Lago vai presidir a COP 30 em Belém, anuncia governo; veja perfil
21/01/2025
Embaixador é o atual secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, e tem trabalhado com temas de desenvolvimento sustentável desde 2001. Embaixador André Corrêa do Lago
TV Globo/Reprodução
O governo federal anunciou nesta terça-feira (21) o nome do embaixador André Corrêa do Lago para presidir a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que acontecerá neste ano em Belém (PA).
O anúncio foi feito pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e pela secretária-executiva do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O diplomata André Corrêa do Lago é o presidente da COP. E aproveito para parabenizá-lo, pela segunda vez aqui, de público, agradecendo pela disposição. E o Ministério do Meio Ambiente, com a secretária Ana Toni, que será a diretora-executiva da COP", anunciou Marina.
Corrêa do Lago é, desde 2023, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores – cargo criado já no atual governo. Ele trabalha com temas de desenvolvimento sustentável desde 2001.
O embaixador também já esteve à frente das negociações por parte do Brasil nas conferências de clima da ONU.
"Queia agradecer a confiança do presidente Lula em me nomear presidente da COP 30. É uma honra imensa, e acredito que o Brasil pode ter um papel incrível nessa COP. Agradeço também ao resto do governo, porque a COP, a gente vai ter que construir todos juntos. E além do governo, com a sociedade civil, o empresariado, todos os atores que são absolutamente essenciais na formação do que o Brasil quer desta COP", afirmou o novo presidente da COP, em seguida.
Corrêa do Lago também agrega no currículo a experiencia em cúpulas internacionais. No G20 do ano passado, por exemplo, o embaixador coordenou o grupo de trabalho voltado para Sustentabilidade Ambiental e Climática.
Entre os méritos da atividade liderada por Corrêa do Lago está o documento que estabelece os 10 princípios de alto nível sobre bioeconomia. Foi a primeira vez que o grupo de países discutiu o tema e chegou a um documento de consenso multilateral.
"Com a ajuda de vocês, vamos fazer uma COP que será lembrada com entusiasmo", disse o embaixador.
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EUA fora do Acordo de Paris afetam evento
No primeiro discurso à frente da COP 30, André Corrêa do Lago reconheceu que o anúncio da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris – feito pelo presidente Donald Trump no primeiro dia do novo mandato, nesta segunda (20) – complica a situação da Conferência do Clima das Nações Unidas.
"Claro, os Estados Unidos são um ator essencial. Não só a maior economia, também um dos maiores emissores, Mas também um dos países que têm trazido respostas à mudança do clima com tecnologia. Os EUA têm empresas extraordinárias, e vários estados e cidades americanas estão muito envolvidos nesse debate", disse.
"Estamos todos ainda analisando as decisões do presidente Trump. Mas não há a menor dúvida de que terá um impacto significativo na preparação da COP, e na maneira como vamos lidar com o fato de que um país importante está lidando com esse processo".
"Inclusive, os Estados Unidos continuam membros da Convenção do Clima, estão saindo do Acordo de Paris. Então, há vários canais que permanecem abertos, mas não há dúvidas de que é um anúncio político de grande impacto", seguiu Corrêa do Lago.
Biografia
André Aranha Corrêa do Lago nasceu em 1959. É bacharel em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981) e entrou na carreira diplomática em 1982.
Na Secretaria de Estado, em Brasília, exerceu funções nas áreas de organismos internacionais, promoção comercial, cerimonial e energia. No exterior, serviu nas embaixadas em Madri, Praga, Washington e Buenos Aires e na Missão junto à União Europeia, em Bruxelas.
Tem trabalhado com temas de desenvolvimento sustentável desde 2001. Foi diretor do Departamento de Energia (2008-2011) e do Departamento de Meio Ambiente (2011-2013), período em que foi o negociador-chefe do Brasil para mudança do clima (2011-2013) a para a Rio+20 (2011-2012).
Foi embaixador no Japão (2013-2018), na Índia (2018-2023) e, cumulativamente, no Butão (2019-2023). Desde março de 2023, é o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores.
Corrêa do Lago publicou livros e artigos sobre desenvolvimento sustentável e mudança do clima e é também crítico de arquitetura. É casado e tem quatro filhos.
Diplomata André Correa do Lago, em imagem de 2023
Marcelo Seabra/Ag. Pará
Ana Toni será 'número 2' da COP
A secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, foi anunciada como CEO e secretária-executiva da COP. Na prática, a número 2 no comando.
Como secretária da pasta liderada por Marina Silva, Ana Toni foi a responsável por liderar o trabalho de atualização da meta de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil. Toni apresentou a nova meta brasileira na COP 29 de Baku, antes do vencimento do prazo, previsto para fevereiro de 2025.
Toni é economista e doutora em ciência política. Possui trajetória marcada com atuações em projetos voltados à justiça social, à promoção de políticas públicas, à área do meio ambiente e mudanças climáticas e à filantropia.
A secretária também já atuou como diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e já foi presidente de conselho do Greenpeace Internacional. Também já trabalhou na diretoria da Fundação Ford no Brasil e da ActionAid Brasil.
Além do mais, Toni também tem atuação na Rede de Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade, ClimaInfo e Instituto Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
O que faz o presidente da COP?
O cargo de presidente de uma COP tem peso importante, pois cabe ao ocupante da função mediar e articular os debates com outros países, e, até mesmo, construir consenso para uma declaração final.
A COP 30 terá grandes desafios. A Conferência do Azerbaijão não resolveu totalmente a questão do financiamento climático. E o governo brasileiro tem visto com preocupação a carga de demandas que a cúpula terá de resolver.
Segundo especialistas, o Brasil terá a responsabilidade de retomar o debate e avançar em acordos para a preservação ambiental e climática.
Para o Itamaraty, a COP 30 poderá deixar como "grande legado" a renovação de compromissos com a redução das emissões de gases poluentes e o término de debates que o Azerbaijão não concluiu.
Entidades elogiam escolha do diplomata
Entidades da sociedade civil repercutiram nesta terça-feira o anúncio do governo de que André Corrêa do Lago será o presidente da COP 30 e elogiaram a escolha.
O Observatório do Clima, por exemplo, disse que "dificilmente haveria alguém com mais estatura" para a função, acrescentando que o diplomata tem experiência no tema e em negociações climáticas.
Para a entidade, o presidente da COP 30 terá "agenda desafiadora", uma vez que precisará, por exemplo, indicar como será possível mobilizar os recursos necessários para o combate às mudanças climáticas.
"A COP 30 precisa provar ao mundo que o processo multilateral de clima ainda é importante para lidar com o maior desafio coletivo da humanidade. Precisa acelerar a implementação do Acordo de Paris, [...] garantir que as metas nacionais dos países para 2035 sejam alinhadas com o objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5 ºC", afirmou a entidade.
O Greenpeace, por sua vez, disse que André Corrêa do Lago "possui o conhecimento e as capacidades necessárias" para mediar as negociações da conferência.
"O maior desafio da Presidência da COP 30 sem dúvida será imprimir a urgência necessária a um processo que encontrará, no cenário político, sinais invertidos. Não podemos nos distrair do que precisa ser feito: a transição para um mundo sem combustíveis fósseis e a viabilização de recursos para que os países em desenvolvimento possam cumprir seus planos de mitigação e adaptação", declarou a entidade.
Em nota, Tatiana Oliveira, especialista de políticas públicas do WWF-Brasil, disse que a indicação de um diplomata "experiente e hábil" como André Corrêa do Lago "é um bom presságio de que a COP30 poderá entregar".
"A COP30 precisa garantir ações de mitigação que respondam à urgência da crise climática, incluindo o compromisso com metas mais ambiciosas, com a promoção de uma transição energética justa e com a viabilização do financiamento necessário. Nada disso será possível se a conferência não for um espaço de diálogo e de construção coletiva que favoreça a superação de divergências entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, valorizando as vozes de povos indígenas, populações periféricas, comunidades quilombolas e tradicionais nos processos de tomada de decisão", afirmou.